Tem algo engraçado a respeito da festa de ano novo. Engraçado talvez seja até a escolha errada de palavras, mas pelo menos curioso. A maneira como todo mundo se comporta.
Até umas 23:50 é uma festa normal, como todas as outras, fora as roupas brancas e a preferência unânime pela champagne. Mas aí sempre tem alguém que grita “DEZ MINUTOS!!”. Isso basta pra excitar o povo. A contagem regressiva termina e logo começa o festival de estranhezas. Parece até um ritual, ao qual, pelo menos para mim, falta genuinidade: gente que eu nunca vi na vida me abraça, me beija, deseja tudo de bom. É o único tipo de festa que além de no início e no fim, você cumprimenta os desconhecidos também no meio.
O ainda mais interessante é que a esperança é palpável. “Não, 2011 será bem melhor que 2010”. Assim como 2010 foi melhor que 2009, e esse melhor que o anterior. É surpreendente a obsessão das pessoas pela perfeição. Vi em um filme que a perfeição é incognoscível. Encontrá-la é entender que ela não existe. Não é a divisão cronológica que vai mudar os fatos ou nos fazer menos ou mais infelizes. A virada de ano (mesmo que com lentilha) não é uma renovação que afastará as tristezas, as frustrações e as angústias. É, assim como as religiões, apenas uma superstição que nos conforta e nos guia rumo à uma utopia inatingível. À paz inalcançável. À felicidade inacessível.
Quem sabe ano que vem.
-2011