“Essa animalização do homem em bicho-anão de direitos e exigências iguais é possível, não há dúvida! Quem já refletiu nessa possibilidade até o fim conhece um nojo a mais que os outros homens – e também, talvez, uma nova tarefa!”.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
Desculpem-nos pela seca, mas escrever pra mim é uma arte. Não se faz nas coxas, apenas pela necessidade de se fazê-la. É preciso inspiração, informação, vocabulário. E depois de isso tudo ainda é necessário um impulso, um incentivo, um estímulo quase que nervoso. O meu hoje foi o filme O Casamento do Meu Melhor Amigo. Angustia-me ver o blog assim, vivendo das carcaças de textos passados. Há dias queria postar algo, e minha aula de filosofia é a fonte, me enchendo de idéias e dúvidas. Já obtinha a essência, faltava-me o corpo. Até que assisti os 100 minutos de Julia Roberts como Julianne Potter. Ver os atos desesperados praticados por ela por receio de perder a chance de se casar com o homem de seus sonhos, chance a qual se mostrou diversas outras vezes, mas que nunca fora aproveitada; me fez pensar sobre o quão necessário é para nós que alcancemos nossa concepção de felicidade. Pois digo logo, para mim, essa concepção, na maioria das vezes, seja lá qual for ela, está errada. Esforçar-se para achar felicidade já apresenta um paradoxo. O que é estar “em busca da felicidade”? O sentido da vida? Uma perda de tempo? Chegando agora ao fim do semestre tive a oportunidade de estudar Friedrich Nietzsche e de nele encontrar o filósofo com que eu mais me identifico. É exatamente sua questão do “último homem VS. super-homem” que tento exemplificar aqui. No final do filme, Jules recebe a lição do amigo: “What the hell? Life goes on. Maybe there won’t be marriage. Maybe there won’t be sex. But by God, there will be dancing!”. E a partir desse momento ambos saem dançando e desconstruindo o paradigma do pavor de viver uma vida coadjuvante. Concentramo-nos tanto em obter sucesso em todos os aspectos e a todas as custas que não percebemos que sucesso é viver a vida como ela é. É como diz o alemão: errado é tentar entender a Verdade para lastrear uma conduta de vida. A Verdade que tanto buscamos é uma invenção nossa, um anestésico que mascara nossa incapacidade de aceitar que o único e exclusivo sentido da vida é vivê-la. E que só assim ela faz sentido. Vou ainda em sua aba quando ele dá o exemplo de Deus: o que virou ele afinal senão o fetiche da realização de nossos próprios desejos? Acreditamos, pois nos forçamos a isso, por medo de não o fazer. Moralizamos essa figura divina dando a ela uma conotação utópica para dela nos aproveitarmos como ferramenta de alcance de interesses próprios. Deus tornou-se um antidepressivo. É como já dizem alguns títulos criativos “Mais Platão, Menos Prozac!”. É essa, hoje em dia, a principal rota de fuga da clareira que Nietzsche abriu: nada melhor que um comprimido de Lexotan ou uma dose de ‘branquinha’ para matar a aflição de não saber o que fazer com a vida. Ora, não faça nada! Não se deve fazer algo COM ela, mas sim DELA. Chegamos a tal grau de niilismo e superfluidade que inventamos as mais diversas válvulas de escape do questionamento do nosso papel nesse mundo. Não temos papel nenhum! Essa ‘moral de rebanho’ em que vivemos é inútil, serve apenas para nos impedir de vivermos do nosso jeito, apropriado e conveniente a cada um de nós, exclusiva e unicamente, completamente livre de preconceitos, censura, desaprovação, dominação, falso pudor, e todas as outras ‘virtudes’ que adquirimos com o desenrolar dos séculos. Paremos de nos inquietar tanto com a definição da razão de nossa existência. Façamos o que queremos: tenhamos amigos, amemos, falemos bobagens, andemos descalços, experimentemos tudo, burlemos as leis (escondidos), sejamos cafonas como estou sendo agora… O crucial é, como diz o filósofo baiano Sir Caetano, saber a dor e a delícia de ser o que é. No mínimo, tenho certeza, there will be dancing.
-2011