me apaixono toda vez que te vejo comer uma tangerina
deitado em deleite assistindo aos teus dedos
arrancando o caule seco e perfurando a casca rugosa
descamando aquela cobertura laranja-lustrosa
explodindo o nosso quarto em perfumes cítricos
que depois custam a sair dos lençóis
fico todo inspirado a cada gominho arrancado
a maneira como extrais as pequenas fibras do bagaço
tão delicado
e um calafrio me sobe à espinha
toda vez que tu levas à boca um daqueles diamantes
e decides partir com os dentes a fruta ao meio
toda arrepiada com a acidez do suco que te escorre
pelos lábios
lá em casa sempre haverão tangerinas
-2017