Ela olha pra ele longe, do outro lado de uma multidão que ele atravessa mais rápido do que ela imagina possível. Logo está muito perto, perto demais, e sorri com uns dentes sacanas, mexe o torso nu numa íntima intimidação, desfere seduções indiscerníveis ao pé de seu ouvido. Ela diz que não. Ele a segura pelo braço todo pintado em purpurina, enlaça a mão em sua cintura despida e se derrama em amores vadios – que ela é linda, que foi destino, que é carnaval. Ela diz que não. Ele escolhe subentendê-la e com os lábios grossos e salgados rouba dela um beijo de carnaval, um beijo conquistado. Ela fica com o gosto do não na boca.
-2018